Como falar da morte com as crianças

Gosto muito de matérias sobre Educação, e uma entrevista da psicopedagoga cachoeirense Luizette Azeredo, que tem 60 anos de experiência no Magistério, me chamou a atenção.

Ela dizia que todo ser humano vai ser frustrado pela vida hoje ou amanhã. E que essa verdade é o andador do educador pai e do educador professor. Se você ama seu filho, seu aluno, você tem que ser sério, advertia.

Ela dizia que se o filho estiver fora do jogo, se não estiver cumprindo, se não estiver obedecendo, ele perde. “No meu coração dói fazer uma criança entender que perdeu, mas temos que ensiná-lo, porque a vida vai fazê-lo perder”.

Ela afirmava com muita segurança que quem se acostuma a ganhar e perder se estrutura para a vida. “Aprender a conviver com a frustração é um dos grandes fatores de amadurecimento do homem do futuro. Quem nasce, vive e morre sem nunca ter tido uma frustração?

E é lembrando das palavras dessa educadora que quero abordar uma das perdas que considero mais dolorosa, e que todos nós passaremos por ela: a morte. Como falar dessa perda irreparável para as crianças?

Especialistas recomendam que, independentemente da idade, a criança precisa saber a verdade. Isso diante da morte de um parente querido ou do seu animal de estimação. Maria Helena Franco, psicóloga e coordenadora do Laboratório de Estudos sobre o Luto da PUC-SP, adverte que as crianças são só crianças, não bobas, e que diferentemente dos aspectos do desenvolvimento motor, o emocional é mais individual e depende também das experiências de vida de cada pessoa e família.

A psicóloga Rita Callegari, do hospital São Camilo (SP) destaca que ao esconder dos filhos a morte de um cachorro e até do peixinho do aquário, dizendo que ele sumiu provoca a quebra de confiança, porque cedo ou tarde a criança pode ouvir uma conversa ou ver o bichinho morto.

Então papais, não caiam na tentação de esconder a morte de parentes, amigos e até dos animaizinhos de estimação dos seus filhos pequenos. De uma forma menos pessoal, elas já têm contato com o tema ao ler ou assistir seus desenhos preferidos. Muitos personagens são órfãos de pais ou de mães. Sem contar que eles ouvem falar da morte por acidente e violência.

Mas o psicólogo Júlio Peres, autor do livro Trauma e Separação (Ed. Roca), alerta que a diferença é que, até por volta dos 6 anos, a criança não entende que a morte é irreversível. “Nessa fase ela não difere fantasia da realidade, acredita que, assim como nos desenhos animados, dá para se levantar depois que cai uma bigorna na sua cabeça”.

Ele explica que é preciso deixar a criança “brincar de morto”, sem repreender. Isso, somado às pequenas mortes do dia a dia, dos insetos, plantas e pequenos animais, são um bom treino para entender a sequência da vida e facilita na hora de lidar com uma morte de alguém próximo, enfatiza.

E os especialistas dão outras dicas: ouça o que a criança tem a dizer, evite falar que a pessoa ou animal querido dormiu, porque ela pode ficar com medo de dormir ou achar que a pessoa acordará. Não usar a expressão viajou e foi embora também é uma recomendação dos psicólogos.

Então o conselho é que a criança precisa passar pelo processo da perda sem culpas, medos ou traumas. Se quiser, ela poderá inclusive ir ao enterro. Porque se tem uma coisa certa na vida é a morte. E precisamos, desde a infância, aprender a lidar com ela.

Seguindo ainda a orientação de psicólogos que coordenam estudos sobre o luto, deixe a criança viver o luto, para que não viva de luto. É doloroso, mas necessário.

Observação:

A ilustração desse texto é de Ziraldo, do livro Menina Nina, Duas Razões para Não Chorar (Ed. Melhoramentos), que o autor escreveu algum tempo após a morte da esposa. Nina é sua neta e viveu o luto. Nada foi escondido dela.

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