Novo tema se chama pedagogia sistêmica. Prática, embora se mostre eficaz, não substitui a psicoterapia convencional e não dispensa o uso de medicamentos e tratamento psiquiátrico para certas doenças
Um aluno que não consegue falar ou que não consegue aprender; uma criança que gagueja na hora de se comunicar; um estudante que se expressa de maneira agressiva… esses comportamentos são mais comuns na sala de aula do que se imagina. E em muitos casos podem estar associados a questões familiares desconhecidas.
Existe um caminho usado por alguns educadores que pode ajudar a resolver conflitos ou transtornos de aprendizagem. É o método chamado constelação familiar, que leva em conta o que há oculto nos sistemas familiares e escolares que impedem uma pessoa de crescer.
O que é o método da constelação familiar?
Então vamos lá. Para entender melhor esse trabalho na escola, é importante saber do que trata a constelação familiar. Ela é um tipo de abordagem, desenvolvida pelo psicoterapeuta alemão Bert Hellinger, falecido em 2019, que tem como objetivo facilitar o entendimento de transtornos psicológicos, especialmente aqueles que podem estar sendo estimulados pela dinâmica das relações familiares ou de relacionamentos, através da identificação de fatores de estresse. Desta forma, permite ajudar a capacitar a pessoa a observar o mundo de diferentes perspectivas.
A constelação familiar é uma prática que busca resolver conflitos familiares que atravessam gerações.
No caso da educação, esse novo tema se chama pedagogia sistêmica porque analisa todo o sistema familiar e traz para o aprendizado. Quando uma criança apresenta problemas ou alguma dificuldade na escola, pode estar repetindo atitudes de seus pais, irmãos, tios, avós. E aí estaria o fio da meada para solucionar algumas situações.
A neuropsicopedagoga Raphaela Barros, que é também especialista em Orientação Educacional, escritora e professora da rede municipal de Ensino do RJ, levou o método das constelações familiares para dentro da escola onde trabalha.
“Eu aplico isso no dia a dia e dentro do aprendizado porque toda história familiar pode interferir no aprendizado. E algumas barreiras estão sendo quebradas depois que a família entende, aceita a história familiar e busca uma nova direção”, afirma.
Método usado pelo SUS
Embora traga resultados práticos, segundo especialistas na área da educação, este tipo de abordagem não está amparado por comprovações científicas da sua eficácia e, por isso, não é aprovado pelo Conselho Federal de Psicologia e nem pelo Conselho Federal de Medicina. Além disso, vale ressaltar que a constelação familiar não promove a cura e não substitui a psicoterapia feita com psicólogos e nem os tratamentos médicos para doenças psiquiátricas. No entanto, o método é reconhecido e oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), como parte do Programa Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC).
A professora Raphaela explica: “Por trás de cada criança que não aprende existe uma história, existe uma família, existem bloqueios familiares, existe todo um trajeto que é desconhecido. E se a criança não tem nenhuma patologia ou deficiência, isso tem que ser investigado”.
Raphaela recebe os alunos e seus familiares em uma sala de recursos. “Antes de atender as crianças no ano letivo, eu faço uma anamnese, um atendimento como se fosse de terapia com a mãe do aluno. E busco todo o histórico familiar daquela criança: como foi a gestação, como essa criança nasceu, como é o relacionamento com o pai da criança… Aí a gente começa a entender por que essa criança é do jeito que ela é\”, diz.
A educadora conta que começa a atuar terapeuticamente e falar frases quebrando todos os paradigmas que foram colocados nessa família. \”Às vezes na mãe, da mãe passa para o filho e do filho para o neto. Então, muitas vezes, uma limitação nossa foi imputada em nós através de uma fala da nossa mãe, uma fala do nosso pai, de uma avó, de um professor e isso precisa ser investigado. Somo feitos de heranças boas e ruins. As heranças boas, ok. As heranças ruins precisamos fazer o caminho de volta para poder tratar, curar e aí sim deixar a criança livre para poder aprender, caminhar sozinha e viver uma nova história”, opina Raphaela.