Quem não guarda uma lembrança carinhosa da professora que ensinou a ler e escrever? Para muitas pessoas, o professor que alfabetiza é o que mais influencia os primeiros passos da vida escolar. Eu digo com propriedade porque sou filha de professora da antiga 1ª série. E toda vez que encontro com ex-alunos da minha mãe, eles fazem questão de mandar um beijo pra “Tia Edi” e pedem pra dizer que ela foi muito marcante na vida deles. E olha que foram alunos dela há mais de 35 anos.
A alfabetização é um processo de aprendizagem tão importante que tem uma data especial no calendário brasileiro: o dia 14 de novembro. E é o primeiro passo para que o cidadão tenha assegurado o direito constitucional à Educação. Ela não se baseia unicamente no ato de aprender a ler e a escrever, mas também no desenvolvimento da capacidade de compreensão, interpretação e produção de conhecimento.
Origem da data
O Dia Nacional da Alfabetização é uma homenagem à criação do Ministério da Educação e Cultura (MEC), em 14 de novembro de 1930, a partir do Decreto de Lei nº 19.402. No Brasil também se comemora o Dia Internacional da Alfabetização, em 8 de Setembro. Esta data foi instituída pela ONU (Organização das Nações Unidas) e possui o mesmo objetivo de fomentar o processo de alfabetização em todos os países do mundo.
Tema popular
São inúmeras as teses, monografias e dissertações que têm como tema a alfabetização. Ela também está entre os assuntos favoritos de pensadores e educadores. O saudoso Paulo Freire gostava de provocar reflexões. Em uma de suas frases célebres dizia: “Não basta saber ler que Eva viu a uva. É preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho.”
A professora e escritora Augusta Schimidt destaca que a alfabetização é a primeira etapa do processo de inclusão na sociedade: “alfabetizar é acender uma luz que jamais será apagada. É iluminar um futuro próximo e também distante. É deixar uma marca útil que se eternizará. Alfabetizar é mais uma forma de amar\”.
Desafio de formar cidadãos críticos
Para a professora Fabiane Martins, o grande desafio, para além de formar cidadãos alfabetizados, é formar cidadãos letrados. “A pessoa letrada é aquela que tem capacidade de analisar a realidade e o contexto social que vive através da leitura e da escrita críticas. É interpretar o mundo de uma forma crítica e consciente. O que está faltando é termos mais cidadãos letrados para mudar a história do nosso país”, conclui.
Reflexões de nossos professores sobre a alfabetização:
“Vejo a alfabetização como a única forma de transformar a vida de uma pessoa, garantir a ela o direito de ser um cidadão de fato, no sentido pleno da palavra. Num país como o nosso em que a desigualdade social só cresce, para mim, não há outro caminho para reduzi-la, a não ser através da alfabetização uma vez que todo o processo de Educação formal passa primeiro pela alfabetização.
Há muitos problemas relacionados a alfabetização quando olhamos para o cenário da Educação Básica no Brasil. Há muito que se investir na capacitação dos professores. Para começar, a meu ver, deveria ser proibido a graduação a distância para professores alfabetizadores porque, embora os cursos de graduação a distância tenham o seu valor, acredito que no caso específico do professor alfabetizador a graduação presencial garante maior aprendizado, sobretudo pela troca que se consegue fazer com os professores da graduação. Não se forma, por exemplo, um médico, um advogado \’a distância, então, como formar \’a distância aquele profissional que é o responsável direto pelo começo de todas as carreiras profissionais? Sem passar pela alfabetização, ninguém consegue nenhuma outra formação acadêmica. E a vida dos que não tiveram a oportunidade de serem alfabetizados nesse mundo globalizado e dominado pela tecnologia é muito difícil. Além disso, há muito que se valorizar o professor no Brasil, inclusive, no que diz respeito \’a remuneração, para que esse professor disponha de uma vida digna e uma boa auto estima, pois isso também influencia na qualidade do seu trabalho. Nossas escolas também precisam de mais recursos, para se tornarem mais interessantes.
Em muitas escolas, como a nossa, por exemplo, falta uma biblioteca de qualidade, com livros mais novos e atrativos, disponíveis no mercado. Mesmo assim, muito se tem feito para garantir uma alfabetização de qualidade pelo país a fora. Existem muitos exemplos de iniciativas bem sucedidas, mas muito ainda precisa ser feito, porque ainda temos muitos alunos com problemas relacionados a alfabetização, dificuldades que não foram superadas e mesmo assim eles avançam no grau de escolaridade por uma questão da atual legislação escolar brasileira. Isso tem aparecido claramente no lugar ocupado pelo Brasil no ranking internacional da Educação.”,
Rosana Aparecida Silva, a Tia Rosaninha é professora do ensino fundamental, município Estrela do Indaiá, MG
Alfabetizar letrando
“O desafio de alfabetizarmos nossas crianças está antes de qualquer coisa despertar nelas o desejo de ler e escrever, de forma prazerosa e espontânea. O lúdico por sua vez, irá possibilitar que esse espaço de aprendizado torne-se agradável, despertando ainda mais nas nossas crianças o desejo de desenvolver a linguagem oral e escrita.
É sabido compreender que, etimologicamente, o termo alfabetização quer dizer levar à aquisição do alfabeto, ensinar as habilidades de ler e escrever, trazendo o processo de aquisição do código escrito e por fim as habilidades de leitura e escrita.
Já o letramento nos traz uma visão mais global. Não podemos apenas aprender a ler e escrever, precisamos encontrar significados para essas habilidades, trazendo uma prática mais social. Uma criança que aprende a ler um texto, precisa saber conversar sobre ele, trazendo suas opiniões literais e não liberais. E é dessa forma que fugimos do analfabetismo funcional.
Nós educadores não podemos nos preocupar em apenas alfabetizar, mas também em letrar. Atualmente estamos precisando ter consciência para que a nossa prática pedagógica tenha mais sentindo no ensino aprendizado de nossos alunos.
Ana Karine Coelho é professora do Ceará
“Dos 2 aos 6 anos é a faixa de idade que a criança aprende e não esquece mais. Os conhecimentos ficam armazenados pra sempre na vida dela. É nessa fase que a criança precisa ter uma boa alfabetização. Se a alfabetização for capenga, ela vai ter dificuldade pra vida inteira.
Ao ingressar na escola, ela já traz uma bagagem da cultura do ambiente em que ela vive. Só através da educação que o aluno constrói a base sólida até o final de sua vida acadêmica. Eu penso que a criança começa a se alfabetizar desde sua tenra idade. Nós, alfabetizadores, precisamos ter consciência de que através do lúdico se cria um facilitador do processo, contanto que se empregue um método eficaz. O aluno se entusiasma e passa a se interessar por tudo que lhe é oferecido. Ele não precisa ficar sentado o tempo todo na sala de aula. Precisa, sim, ter materiais didáticos para que possa construir. Através da construção, ela se alfabetiza mais rápido, aprender mais e se desenvolve melhor.”
Edinaura é professora do ensino fundamental do Instituto Superior de Educação do RJ
“A alfabetização não acontece num único momento da vida de um ser humano.
Eu acredito que a Alfabetização acontece gradativamente, desde que a criança passa a ter contato com letras e números, aprendendo o significado dos símbolos, fazendo associação destes com as imagens do mundo.
A alfabetização é a porta de entrada para a comunicação da leitura e da escrita e é através dela que a criança amplia seus horizontes.
Quando existe uma prática significativa em alfabetizar, na qual a criança se identifica, as barreiras são totalmente quebradas, independente de serem emocionais ou sociais, sendo necessário apenas uma investigação na aplicação correta do método mediante a realidade de público.
Alfabetizar é oportunizar a criança em fazer parte do mundo que a cerca, tendo direção para suas ações e comunicação com toda sua rotina, acompanhando cada etapa e superando as dificuldades.”
Raphaela Barros é professora da rede municipal de Ensino do RJ, pedagoga, habilitada em Administração Escolar, especialista em Orientação Educacional e escritora.
“Primeiro, gostaria de parabenizar a todos os alfabetizadores, pois é uma das fases mais importante na vida do aluno. Alfabetizar é uma continuidade, pois estamos nos alfabetizando sempre .
Fui alfabetizadora por muitos anos e, embora tenha trabalhado em outras áreas da educação, foi onde me realizei como profissional . Nesta caminhada usei vários métodos. Sei que cada um deve alfabetizar com aquele que sabe fazer melhor e acredita.
Depois que conheci o método natural dentro da linha construtivista foi o melhor. Ele mostrou resultados rápidos, dava muito trabalho, mas valia a pena.
Toda aula começava na rodinha com todos sentados no chão. Ali conversávamos sobre tudo que aconteceria e das novidades contadas por eles, saia a palavra que trabalharíamos e assim sucessivamente.
Depois da rodinha eram distribuídas as tarefas do dia e todos iam para as mesinhas que já estavam organizadas em grupo, pois era a melhor maneira de trabalhar porque sempre um amiguinho ajudava o outro.
E com este método, a leitura e a escrita eram trabalhadas juntas.
Até as crianças que tinham alguma deficiência acabavam acompanhando junto com os outros amiguinhos.
Eu tive uma aluna surda muda. Olha… foi difícil, mas não desanimei e ela se alfabetizou junto com os coleguinhas, sem auxiliar nenhum para ajudar. Acredito que todo professor deveria trabalhar no processo de alfabetização, pois foi como me realizei como professor.”
Maria Amália dos Santos Silveira é professora aposentada. Trabalhou muitos anos como alfabetizadora no antigo Instituto de Educação, hoje ISERJ
“Alfabetizar é participar do processo de leitura do mundo do outro.”
Janaína Martins é professora do ensino fundamental / RJ