Você já recebeu algum aluno de outro país na sua escola? Embora muitas instituições não vivenciem essa realidade, é cada vez maior o número de estudantes imigrantes e refugiados nas escolas brasileiras. As matrículas de alunos estrangeiros mais do que dobraram na última década, passando de 70 mil, de acordo com o último Censo Escolar, sendo que as escolas públicas absorvem 64% dessas crianças, e o estado de São Paulo responde por um terço do total, seguido do Paraná e Minas Gerais.
A maioria dos estudantes imigrantes vem da América Latina. As condições socioeconômicas da Bolívia, os desastres naturais no Haiti e a instabilidade política e econômica da Venezuela podem ser descritos como os motivos principais atualmente para os fluxos migratórios destes povos para o Brasil. Além dos latino-americanos, o país recebe muitos imigrantes europeus e asiáticos.
Direito garantido pela Constituição
A legislação brasileira determina que estrangeiros têm direito ao acesso à educação da mesma forma que as crianças e os adolescentes brasileiros, conforme expresso pela Constituição Federal (artigos 5° e 6°), pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (artigos 53° ao 55°) e pela Lei da Migração (artigos 3º e 4º). Além disso, a Lei dos Refugiados (artigos 43º e 44º) garante que a falta de documentos não pode impedir seu acesso à escola.
Acolhimento é essencial
Mesmo que sua escola não tenha imigrantes, você está preparado para recebê-los? Nós vamos ajudar com algumas dicas para que essa experiência seja feliz para o novo estudante e enriquecedora para toda a comunidade escolar. O acolhimento é o ponto de partida para superar as diferenças culturais e de idioma.
Ao receber um aluno estrangeiro, os educadores devem conversar com a criança e a família para entender os hábitos e costumes do seu país. Existem culturas em que meninas estudam separadas dos meninos; já em alguns países eles usam vestimentas religiosas para estudar, só para citar alguns exemplos que podem criar situações de tensão na sala de aula. Através do diálogo, a escola pode evitar que o aluno tenha um choque cultural em relação ao seu país de origem. Se há acolhimento e boa vontade, a dificuldade com a língua passa a ser secundária.
“Na verdade, você vai acolher e inserir o aluno numa nova realidade, sem banalizar ou menosprezar a cultura dele. Podendo até ser foco de aprendizado para outros alunos, para que conheçam uma nova realidade, hábitos, costumes e lugares”, afirma a coach educacional e professora de rede municipal de ensino do Rio de Janeiro, Raphaela Barros.
Dicas de adaptação
1. Criar com os alunos placas de identificação dos espaços com todas as línguas faladas na escola. A confecção desse material certamente vai criar com os estudantes uma aproximação com a cultura do colega de outro país
2. São necessárias adaptações nas práticas pedagógicas para que os estudantes estrangeiros consigam aprender a língua portuguesa e, assim, acompanhar as aulas. Em paralelo, as escolas devem promover a integração das famílias dessas crianças e jovens, para que todos possam se adaptar às diferenças culturais em sua nova realidade.
3. Outra sugestão é incluir no currículo das aulas de história temas que afetam os imigrantes, como xenofobia e trabalho escravo. E também assuntos leves, como curiosidades sobre o país da criança imigrante. O aluno pode contar sobre as situações que viveu e despertar o interesse da turma por determinados assuntos.
4. Também pode enriquecer essa conivência a exibição de filmes sobre a cultura daquele país para integrar e permitir que os amigos da classe entendam as diferenças dos costumes.
5. Oferecer aulas de reforço no contraturno também é uma forma de facilitar a adaptação.
6. Ainda na parte pedagógica, alguns especialistas defendem que é preciso ser flexível com esse alunos, uma vez que poderão ter com dificuldades no aprendizado do idioma. Um exemplo é aceitar respostas na língua materna nas provas, desde que o professor coloque ao lado como seria o correto em português.
7. Organizar atividades externas, como passeios a museus e centros culturais, ajuda os estrangeiros a se habituarem à cidade e aos costumes do seu novo país.