Quem nunca ouviu falar que contar histórias, seja para crianças ou adultos, faz um bem enorme tanto para quem conta quanto para quem ouve?
Provavelmente todos aqueles que guardam na memória bons momentos da infância, em que o sono ou os momentos de relaxamento e descanso eram embalados por lindas histórias infantis, geralmente contadas pelos pais ou avós. Ou por aquele tio ou tia que tinha uma habilidade especial para prender a atenção, e encantar os pequenos com personagens encantados.
Eu mesma tenho ótimas lembranças de minha mãe contando histórias lindas que embalavam meus mais belos sonhos. Já compartilhei isso em outros artigos. Mas é bom lembrar que a prática nasceu há mais de mil anos, e continua uma arte que atrai atenções. Mais que isso, foi importante na transmissão da tradição oral de nossos antepassados que chegaram até nós.
Falo de contação de histórias para ouvir Maria Elvira Tavares Costa, uma profissional que faz dessa arte sua profissão, e que com muita doçura e suavidade atrai o olhar da plateia, seja ela formada por adultos ou crianças, sempre muito atenta às suas palavras e movimentos.
Ela é também Coordenadora Projeto Livres Livros em Cachoeiro de Itapemirim, cidade em que vivi por muitos anos. O Livres Livros disponibiliza vários títulos que podem ser pegos e devolvidos em vários pontos espalhados por várias cidades do país. É uma iniciativa de Raíssa Martins de Salvador. Ela vai nos responder algumas perguntas. Espero que gostem.
Como você vê o incentivo à crença em Papai Noel?
Essa pergunta não é fácil de ser respondida. Natal é a celebração do nascimento de Jesus – há os que creem, há os que não. Crendo ou não, esse é o significado da festa. Herdamos o Cristianismo dos diversos povos europeus que aqui aportaram, dos portugueses, italianos e espanhois.
E com eles aprendemos, originalmente, a comemorar essa data com mesa farta, troca de presentes, árvore enfeitada e presépio. Ah, os presépios de São Francisco! E Folia de Reis! Sim, Folia de Reis! Que visitavam as casas, com suas ladainhas, cantos e brincadeiras, a nos contar toda a história de Jesus. Traziam o Evangelho, cantado e contado – em sintonia perfeita com a comemoração. O Papai Noel chegou muito depois, no final do Século XIX, mostram as pesquisas, como \’garoto propaganda\’ para incentivar o consumo, e chegou para ficar. Se, originalmente, se vestia de peles, por golpe de marketing, adotou as cores da Coca-cola! E saiu estampado e ao vivo, nos reclames, e no caminhão da bebida – como faz até hoje! Vejo que, para muitos, o Natal também passou a adotar esse tom: meu presente, seu presente, nossa comilança – e, por favor, me perdoem se estou sendo pessimista. Nesse cenário, acho importante, sim, trabalharmos a figura do Papai Noel, sob o ponto de vista da solidariedade e da bondade! (se não se pode vencer….)
Como um convite a ser seguido: a árvore de pedidos dos Correios é um ótimo exemplo. Envolver a garotada nesse sentimento cristão de partilha – quantos peixes você tem? Contrapondo a essa presença inevitável do Velhinho, a presença da fraternidade do menino Jesus. O mito? Esse, eu creio, cada família vai trabalhar ao seu modo. Eu conto Histórias do São Nicolau, origem real, e suas peregrinações noturnas, para agradar as criancinhas… E o seu Espírito de bom Velhinho que ainda inspira tanta gente a ser boa.
Como contadora de histórias qual sua experiência mais gratificante no incentivo ao mundo da fantasia?
Contar histórias é mágico e encantador! Todos se enamoram, qualquer que seja a idade: os olhinhos brilham, a criança se presentifica. É sempre especial. A fantasia nos ajuda a abrandar a dureza do real! Assim como a Poesia, como nos ensinou o Mestre Gullar: a vida não basta. Se é para sonhar, vamos sonhar lindo – e encontrar razão para seguir lutando.
Qual foi sua melhor experiência como contadora de histórias?
Vou ser franca: minha melhor experiência de fantasia foi com o Saci. E não foi como contadora de histórias, mas como ouvinte atenta. Meu pai era um assoviador de primeira linha. Sabia chamar o vento para secar as telhas da nossa cerâmica. Um dia, eu pequena, ele se abaixou comigo no campinho e me perguntou se eu queria ver um Saci. Não me deu tempo de responder, logo começou a assoviar… E um pequeno rodamoinho se formou diante de nós. ele disse: – O Saci está aí! Eu não esperei. Estou correndo até hoje. Mas confesso que o amor por esse Velho que me deu a vida, que me ensinou tantos encantos e me fez gostar um tantão assim de Saci, transborda.