O garoto se matou após revelar a colegas de escola que era gay
A triste história de Jamel Myles está correndo o mundo. O menino, de 9 anos de idade, cometeu suicídio no dia 23 de agosto, na casa onde morava com os pais em Denver, Colorado, nos Estados Unidos, pouco depois do início das aulas. Ele foi vítima de bullying porque declarou ser gay.
“Quatro dias na escola foi o que bastou, só posso imaginar o que lhe disseram”, afirmou a mãe de Jamel, Leila Pierce, à imprensa. “Meu filho disse à minha filha mais velha que os meninos na escola falaram para ele se matar. Me dói tanto que não tenha vindo a mim”, completou.
Pouco antes de começar o quarto ano, numa escola primária de Denver, o garoto contou à mãe que era homossexual. Ela lembra que Jamel parecia \”muito assustado\” quando lhe contou e sua reação foi dizer ao filho que o amava. Na escola, ele também teria contado aos colegas.
\”Tenho certeza de que ele contou isso para alguém que achou que aquilo não era certo e decidiu persegui-lo. Já vi crianças perseguirem as outras por muito menos. Tenho certeza que ele contou para alguém, e isso se espalhou. As crianças estavam falando para ele se matar\”, disse Leia.
A psicóloga Danielle Amorim de Oliveira lamenta o desfecho trágico e alerta que o caso é mais um entre tantos outros. “Uma situação como essa nos deixa perplexos e nos faz refletir sobre a sociedade a qual estamos inseridos. Em alguns casos, o bullying e o suicídio andam de \”mãos dadas\”, principalmente quando se trata de crianças e adolescentes, pois estão passando por transformações físicas, psíquicas e emocionais. Nesta fase de desenvolvimento, crianças e adolescentes necessitam de suporte familiar, escolar e social, para conseguirem lidar com as mudanças inerentes a sua situação e com o ambiente em que vivem”, afirma a especialista.
A escola onde Jamel estudava informou que tomou medidas extraordinárias para ajudar os alunos a lidar com a morte do colega. O órgão responsável pelas 207 escolas públicas da cidade e do Condado de Denver, DPS (Denver Public Schools), também disponibilizou conselheiros aos estudantes. Em um documento, alertaram aos pais sobre sinais de que as crianças estão passando por situações de estresse.
“A escola me disse que vai trabalhar pela prevenção de suicídios, mas não podemos fazer isso e nos esquecer de combater o bullying. Tenho certeza que a escola sabia que ele sofria bullying\”, diz Leia.
Para a psicóloga, que atende pacientes, inclusive crianças, no Rio de Janeiro, a escola tem um papel fundamental de parceria com as famílias. “Acredito na escola como um segundo lar, até porque, grande parte do tempo da criança é na escola. Claro que não substitui o lar e suas implicações, mas há um grande impacto no desenvolvimento da criança se este ambiente escolar não está preparado para acolher adequadamente e cooperar com o desenvolvimento infantil. A prevenção é o melhor caminho para lidar com tais situações. Estar atento aos seus alunos e seus comportamentos, conhecer a família destes, ter profissionais, como psicólogos, para oferecer suporte aos alunos, promover palestras junto aos alunos e aos pais com assuntos pertinentes que forneçam conhecimento necessário para lidar com temas e situações atuais como o bullying, transtornos emocionais, questões familiares, suicídio, etc. Tudo isso colabora para que haja uma maior conscientização e, consequentemente, uma diminuição nos casos dos transtornos emocionais”, explica.
Dor e culpa
Leia diz sentir-se responsável pela morte de Jamel justamente por não ter notado que seu filho sofria bullying.
\”Como sua mãe, eu deveria ter percebido sua dor, que ele estava sofrendo, e não fiz isso. Eu me sinto responsável por não ter visto a dor nos olhos do meu bebê.\”
Daniele Amorim ressalta que, talvez, a mãe de Jamel não tenha dado a devida atenção ao que foi revelado por ele. “Ela também não dimensionou a possível reação de seus colegas de escola. Acredito que a procura por ajuda seria necessária, já que uma revelação sobre sua escolha sexual feita de forma precoce, demonstrou uma questão a ser investigada”, aponta.
Quando uma criança começa a dar indícios de sexualidade precoce, se faz necessário buscar uma orientação com um profissional especializado. “Uma criança de 9 anos não tem condições de definir sua sexualidade, pois não possui maturidade física, psíquica e emocional para isto. O que levou o menino Jamel a chegar a conclusão de que era gay é uma incógnita para nós. É claro que há algo por trás de tal declaração. Os pais ou cuidadores devem estar atentos aos comportamentos de seus filhos. Conhecê-los requer tempo, dedicação e cuidado que, com certeza, valerá a pena”, destaca Daniele.
Caso conheça ou esteja vivendo uma situação de trauma e depressão, tendo pensamentos de morte, busque ajuda.
No Brasil: Acesse aqui o site do Centro de Valorização da Vida (CVV) para buscar apoio emocional. O telefone do CVV é 188.
Em Bruxelas o centro de prevenção ao suicídio funciona de segunda a sexta de 9h à 13h et 13h30 à 16h30.
Centre de prévention du Suicide
Avenue Winston Churchil 108
B-1180 BRUXELLES
https://www.preventionsuicide.be/fr/
cps@preventionsuicide.be exclusivo para quem busca informação
02 650 08 69 (informação geral) / 02 640 51 56 (para ajuda)
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