Você sabe o que é Transtorno de Dependência de Tela? Seu filho pode estar passando por isso

Pais contam como resolveram problema  

A analista financeira Fatima Lourenço tem dois filhos, um menino de cinco anos e uma menina de 12 anos. Ela conta que os dois são loucos por “qualquer coisa eletrônica”, mas teve que agir quando percebeu que o convívio social com a família estava sendo afetado. “Percebi claramente que isso gera uma compulsão tão forte que beira realmente um vício. Foi nesse momento que tive que interferir”, conta. 

Para Fatima, as crianças hoje em dia parecem ter nascido já conectadas com o mundo virtual. “A tecnologia que vem tão intuitiva que bebezinhos já sabem dar zoom em fotos de celular. Incrível! O salto tecnológico foi tão intenso de uma geração para outra que fica difícil realmente acompanhar. O uso da tecnologia é algo que já mudou o mundo. Não é possível ignorar que isso faz e fará parte da vida dos nossos filhos sempre. Mas assim como tudo, precisamos ensiná-los os limites e quando o mundo real precisa ser mais importante que o virtual” completa. 

Essa dependência de eletrônicos tem um nome: Transtorno de Dependência de Tela. E aí se encaixam celular, Internet, jogos online, vídeo games, tablet, computador e até televisão.

Dependência pode gerar ganho de peso, queda no rendimento escolar e até risco de suicídio

O pediatra Flavio Czernocha alerta que o uso excessivo de telas traz repercussão negativa em vários aspectos, sejam físicos ou comportamentais. “Os estudos evidenciam problemas como ganho excessivo de peso, alterações osteoarticulares, deficiência de vitamina D, aumento exponencial na prevalência e na intensidade da miopia, queda de rendimento escolar e, mais temidos: alterações neuropsiquiátricas como déficit de atenção, ansiedade e aumento de risco de suicídio. O cérebro não lança mão de todo o seu potencial e parece mesmo parar de crescer”, ressalta o médico.

O especialista afirma que, para evitar, as sociedades e academias de Pediatria ao redor do mundo procuram estabelecer um tempo máximo de contato com as telas. “Esse tempo deve ser de duas horas por dia para maiores de dois anos (antes disso, nem mesmo um minuto), bem como estimular o máximo de tempo possível com atividades ao ar livre, que contemplem pelo menos duas a três horas por dia”, orienta Dr. Flavio.

Busca de soluções 

Fatima conta como conseguiu resolver o problema em casa. “Tentei impor limites conversando, mas não estava funcionando como queria. Trabalhando fora o dia todo, ficava difícil controlar. Acabei instalando um software de controle parental Family Link para me ajudar e está funcionando super certo. Tanto tablet quanto celular possuem regras de uso, com limites diários de utilização e hora de dormir. Por exemplo, o tablet do menor só funciona 2h por dia, com horário de dormir entre 22h até 6h; novos aplicativos só com autorização do meu celular, que possui filtros de conteúdo. Estou usando tecnologia para controlar uso da tecnologia”, diz.

Ela acrescenta que todos saíram ganhando com a mudança: “estamos substituindo isso por jogos de tabuleiro,ficar desenhando, lendo livros, fazendo bijuteria… Enfim vivendo”. 

A designer gráfica/digital Flavia Beiral diz que ela e o marido são rígidos, mas já enfrentaram problemas com a televisão.“Em primeiro lugar, as crianças não têm celular, nem tablet. Só eu e meu marido que temos. Mesmo assim, o meu tem um jogo que eu deixo a minha caçula jogar no fim de semana porque o mais velho ganhou um vídeo game de aniversário no ano passado porque até então ele não tinha. Como ela o vê jogando, quer jogar também. Mas a gente impõe um horário. Ele só joga no horário combinado e nos fins de semana”, destaca. 

Vício afeta interação entre crianças 

Flavia relata que, como eles não têm celular, não tem como ficar navegando e participando de grupos de WhatsApp. “O mais velho às vezes reclama de não ter celular, mas não se revolta. E uma coisa que ele fica muito chateado é quando a gente está numa festa ou restaurante e tem um momento que todos os amigos param e cada um se enfia no seu celular. E ele me olha com aquela cara de choro e diz: por que eles estão fazendo isso? A gente poderia estar brincando de pique esconde. Ele fica muito chateado e algumas vezes eu empresto meu celular para ele por um tempo. Mas é para você ver que está afetando inclusive o momento de brincadeira e interação das crianças”, lamenta. 

Ela lembra que o risco não é apenas celular ou tablet. A TV também é uma tela e para resolver o vício dos filhos, usou uma fórmula simples. “Eles já acordavam, corriam para a sala, sentavam no sofá e ligavam a televisão. Eu comecei a colocar uma regra: TV só a partir das 10h. E com isso eles acabaram se entretendo em alguma atividade, os dois juntos. Quando eles estão agoniados, eu pego materiais como tampinhas, palitos, cola e tinta e crio um ambiente propício para eles brincarem na varanda de casa”, afirma, lembrando que ainda tem que redobrar a atenção quando manda os filhos para a casa da mãe, que costuma liberar os aparelhos eletrônicos. 

Exemplo deve vir dos pais

A designer gráfica diz que até ela e o marido passaram a regrar o uso dos seus celulares. “Eu acho que o exemplo é importante. O que eu tenho visto são pais que não estão a fim de dar atenção e deixam o celular ou tablet fazer o papel de educador para ter um sossego. As pessoas não estão sabendo lidar com o tédio da criança”, opina.

A engenheira Lucia Rosenblatt, que tem uma menina de cinco anos, também é restritiva e concorda que os pais devem ser mais rigorosos. “Eu sempre evitei usar celular para suprir tédio. Simplesmente adoto a política de não ter a alternativa para não acostumar”, ressalta.

Ela conta que já teve uma experiência que precisou intervir. “Eu acostumei minha filha a usar celular no carro porque chorava muito (tipo um ano de idade) e agora estou achando péssimo e no processo de retirar esse hábito. Então, no momento, ela tem que escolher se vai usar celular na ida ou na volta.\” 

Lucia explica que a menina fica muito tempo na escola e durante a semana praticamente não há uso de celular. “De manhã é vetado porque na minha experiência sempre gerou estresse para sair de casa. Ajuda, por um lado, porque me libera um pouco para fazer coisas sozinha, mas na hora de desligar é um mau humor do cão. À noite eu costumo liberar uma vez por semana, se ela pedir, mas como não temos hábito. Então, às vezes ela nem pede. Tablet não temos e celular deixo usar para mandar recados de áudio para o pai e avós, tirar fotos e vídeos com esse intuito, mas é algo breve mesmo”.

Assim como Flavia, Lucia evita usar celular quando está com a filha: “uso só para o que preciso, não fico em rede social para não dar o exemplo, porque na verdade o resto do tempo uso muito mais do que gostaria de admitir. Mas com ela me policio mesmo”.

Dicas e alternativas para diminuir a dependência de tela

     1.  Ana Paula Diel – advogada

Estabeleceu dias e horários para a internet: terça e quinta, no máximo 1 hora.Sábado e domingo deixa um pouco mais, quando a família está com o tempo mais tranquilo.

“Mas não passa de 1h30. Até porque ela se cansa também de ficar vendo”, ressalta. 

     2.  Nina Ribeiro – professora e escritora

As filhas de Nina, de 7 e 10 anos, são acompanhadas pelo pediatra Flavio Czernocha, que participa desta matéria e, por isso, seguem a regra de uso controlado das telas: no máximo 2 horas por dia. E as duas têm que ficar uma hora antes de dormir sem tela nenhuma.

“Essa regra de uma hora, às vezes não cumprem, principalmente nos fins de semana. Durante a semana é mais fácil. Agora elas ficam lendo gibi antes de dormir, ou ficam jogando, ou brigando”, brinca Nina.

Na casa da avó, que fica com as meninas e mais um neto parte do dia, também tem uma regrinha: “minha mãe fez uma combinação e na casa dela não pode levar celular durante a semana”.

     3.  Fabiane Martins – professora

Fabiane tem uma menina de sete anos. “Eu tenho um combinado com Amanda.Só entregamos o celular dela a partir da sexta-feira depois da escola e no fim de semana. As primeiras horas com o aparelho celular são intensas, mas depois dá uma baixada na bola. O foco dela no uso do celular é para assistir vídeos de música. Agora descobriu um jogo que despertou muito seu interesse: Roblox. E ela não se interessa mais em usar o tablet”, pontua.

     4.  Lucia Rosenblatt – engenheira

Lucia faz questão de dar uma dica aos pais para um momento que considera crítico: o restaurante. “Agora estou investindo em livros de atividades porque minha filha adora e tenho uma bolsinha de atividades que só é acessível nesses momentos”, entafiza.

Ela diz que vai variando o que leva dentro da bolsinha, mas dá uns exemplos (foto):

– Bola de encher

– Livro de colorir

– Pilot de muitas cores que ela adora e não tem acesso em casa

– Um caderninho

– Massinha

– Jogo do mico

– Adesivos

     5.  Fatima Lourenço – analista financeira

Instalou um software de controle parentalFamily Link

“Está funcionando super certo. Tanto tablet quanto celular possuem regras de uso, com limites diários de utilização e hora de dormir. Por exemplo, o tablet do menor só funciona 2h por dia, com horário de dormir entre 22h até 6h”.

     6.  Flavia Beiral – designer gráfica

Os filhos não têm celular, nem tablet e ela controla o tempo das crianças na frente da televisão.“Com isso, eles acabaram se entretendo em alguma atividade, os dois juntos. Quando estão agoniados, eu pego materiais como tampinhas, palitos, cola e tinta e crio um ambiente propício para eles brincarem na varanda de casa”, diz.

O mais velho joga vídeo game online com os amigos, mas tem que seguir algumas regras:

– O marido de Flavia usa a conta dele de login e controla quem joga com o filho

– O tempo de uso também é limitado. “Na hora de parar, às vezes os amigos continuam e isso estava gerando uma ansiedade nele. Então eu disse que se ele continuasse assim não iria mais jogar online porque temos nossas regras e tem que cumprir. E ele aceitou”, destaca. 

– Para jogar, o menino tem que ter cumprido tarefa de casa, escovar dente, arrumar a cama e outras responsabilidades. “Acabou virando moeda de troca e assim tem funcionado. Pode ser que não funcione para sempre, até porque ele está entrando na fase da pré-adolescência, mas por enquanto a gente está conseguindo levar desta forma”, conclui. 

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