Estudioso alerta que risco para meninos é \”vício\” nos games e para meninas uso indiscriminado das redes sociais
As famílias e escolas estão diante de um grande dilema: entender quando o uso das tecnologias deixa de ser saudável e começa a se tornar prejudicial à garotada. A utilização de computadores e outras tecnologias em sala de aula, por exemplo, pode ser positiva como ferramenta complementar aos recursos pedagógicos, mas é preciso estar atento ao conteúdo disponibilizado e também ao tempo em que as crianças ficarão conectadas. Em casa, esse cuidado deve ser redobrado e os pais ou responsáveis devem assumir a tarefa de supervisionar o conteúdo acessado pelas crianças e adolescentes, seja em computadores, videogames ou nas redes sociais.
O maior perigo é quando a criança fica, por muito tempo, imersa no mundo digital. Além do risco de gerar distorções da realidade, o uso exagerado das telas pode ocasionar problemas na saúde, prejudicando a visão, a postura e, ainda, desencadear transtornos emocionais.
Geração digital
A professora do ensino fundamental Fabiane Martins comenta: \”estamos lidando com uma geração digital na qual as mídias sociais e os games têm um peso para os jovens e pré-adolescentes. Eu acho que é o canal que eles encontram para sentir pertencimento a um grupo. Então, os meninos veem os games com uma forma de se integrar. Por outro lado, as meninas estão muito voltadas para as mídias sociais, como Instagram e TikTok. As famílias e os educadores já entenderam que é um movimento que não tem volta, mas é preciso monitorar, acompanhar e orientar de maneira efetiva\”, aponta a educadora.
Fabiane acrescenta: \”Eles estão em um momento de formação, enquanto cidadãos, e acabam recebendo muita informação que não têm uma capacidade plena de absorver\”.
Na avaliação da professora, essa é uma a geração cada vez mais imediatista. \”Tudo que não é instantâneo para eles é entediante. Isso afeta também o pensar dessa criança, a elaboração do pensamento. As palavras são abreviadas, são siglas… Enfim, é tudo imediato e pouco elaborado. Isso vai se refletindo na vida e no desempenho escolar\”, completa.
Para a educadora, é preciso promover o diálogo dentro de casa. “Mostrar os pontos positivos e negativos. Eles precisam da mediação do adulto. A gente tem que limitar esse uso excessivo das telas”, aconselha.
Compulsão por tecnologias
O pesquisador e neuroeducador Fernando Lino, autor do título \”Xarope Digital\”, mergulha em uma investigação profunda sobre o impacto das redes sociais e o vício em telas na vida das crianças e adolescentes. Para embasar o livro, ele fez um estudo que resultou em dados reveladores.
“Na pesquisa que conduzi com mais de 200 alunos em idade escolar (8-12 anos), observei um índice elevado de compulsão por tecnologias e telas nessa faixa etária, especialmente em comparação com outros países ao redor do mundo. Além disso, identifiquei que alunos de escolas públicas demonstram um nível mais alto de compulsão em relação aos de escolas privadas”, afirmou.
Diferenças entre meninos e meninas
Lino explica que, no que diz respeito à influência da tecnologia de acordo com o gênero, constatou que meninos e meninas tendem a ter interesses distintos em diferentes faixas etárias. “Até aproximadamente 8-10 anos, ambos costumam se interessar por jogos simples. No entanto, a partir dessa idade, as meninas tendem a se voltar mais para as redes sociais, enquanto os meninos continuam a se envolver profundamente em jogos digitais. Não existe uma explicação definitiva para esse fenômeno, mas pode estar relacionado a tendências naturais de interesse de cada gênero. Os meninos, em geral, usam jogos como uma forma de socialização, enquanto as meninas tendem a enfatizar a interação social em plataformas de redes sociais, especialmente aquelas com foco mais visual”, observa.
Fernando alerta que, para as meninas, o uso excessivo das redes sociais pode ter efeitos nocivos, sendo o principal deles a comparação social. “Um estudo recente da Fundação Dove indicou que 80% das meninas pré-adolescentes e adolescentes têm o hábito de se comparar com outras garotas nas redes sociais. Isso muitas vezes envolve tirar uma média de 14 \”selfies\” antes de escolher a foto perfeita, com o filtro ideal para ser postada. Além disso, há estudos que apontam uma correlação entre o uso excessivo das redes sociais e baixa autoestima. No entanto, a abordagem do problema vai além do tempo de tela; é crucial ensinar as meninas a utilizar essas plataformas de forma saudável, promovendo a sensação de pertencimento e autoestima”, opina.
O pesquisador diz que, no caso dos meninos, o imediatismo das tecnologias, como os jogos, pode contribuir para tornar a geração atual mais impaciente e com dificuldade em lidar com frustrações. “Quando as crianças se acostumam com gratificações instantâneas nos jogos, o mundo real pode parecer tedioso em comparação, o que pode ser desafiador para eles”, destaca.
Seja exemplo
A situação é preocupante, mas o neuroeducador aponta caminhos para lidar com o excesso de telas:
1) Ter uma estratégia clara (antes) de dar o celular nas mãos dos seus filhos. Muitos pais entregam de presente o celular aos filhos e esperam que tudo dê certo, mas a tendência é o contrário. Estabelecer limites claros (de tempo, qualidade e etc.) desde o princípio é fundamental, e evita dores de cabeça futuras.
2) Não deixe que as telas sejam a principal fonte de entretenimento da sua casa. Se seu filho crescer em um ambiente onde as telas são a primeira escolha para diversão, ele certamente irá copiar esse padrão, não permitindo a ele fazer descoberta de novas atividades.
3) Seja um bom exemplo. Pais e Mães que sempre estão no celular/TV mesmo que pudessem estar interagindo com os filhos, estão dando o exemplo que as telas vêm em primeiro lugar, antes das pessoas. Não deixe isso acontecer, sempre deixe claro qual é prioridade do seu tempo: o olho no olho com seus filhos. E quando estiver no celular, explique que está fazendo algo realmente importante para logo após dar atenção aos seus filhos.