Desde muito pequena ouvia um comentário de algumas pessoas que me causava grande desconforto.
Estava entrando na adolescência e não sabia o motivo de ficar tão incomodada com aquelas palavras tão desagradáveis. “Prende suas cabras que meu bode está solto” era dito geralmente pelos homens, que gargalhavam com a piada que sempre considerei estranha.
Hoje vejo quanto machismo essa expressão carrega. E dou graças a Deus por nunca ter concordado com ela, mesmo que, na minha inocência de criança, não soubesse exatamente o por quê.
Se ainda existem estupros é porque muitos homens ensinaram aos seus filhos que “as cabritas” estão aí para serem violadas. Afinal de contas, “os bodes” precisam mostrar sua virilidade. Foram incentivados a provar que são machos agindo como garanhões no cio.
Se nas cabeças doentias e machistas as mulheres é que devem, sozinhas, zelar pela manutenção da ordem na sociedade, algo está muito errado. É hora de rever conceitos. De ensinar os filhos que as mulheres de todas as idades merecem ser tratadas com respeito.
Que não são meros objetos, que podem ser usados e jogados fora. Que para que haja uma sociedade mais justa, todos precisam colaborar.
Que os homens não devem ser apenas os provedores, pagando as contas da casa, mas que devem colaborar na criação dos filhos.
Então porque não ensinar as crianças que a família não é só da mulher, embora pareça na maioria das vezes.
No dia em que os pais perceberem que podem mudar o mundo apenas com mudança de paradigmas, uma revolução terá se iniciado.
E nessa revolução, nossas filhas poderão sair para a escola, para o trabalho, para o lazer, sozinhas ou acompanhadas, porque não serão encaradas como cabritas disponíveis para os desejos e aventuras dos bodes machistas.
Tenho dois filhos e os eduquei para que sejam cavalheiros em toda e qualquer circunstância. Acima de tudo, ensinei que mulheres não são cidadãs de segunda categoria.
Não são cabritas, putas ou vadias. São cidadãs com direitos e deveres, de quem, ao longo da história, são cobrados apenas deveres.
E negados direitos, como se a sociedade não fosse formada de homens e mulheres.
Lamento e sempre vou levantar minha voz. Mulher merece respeito.