Tenho percebido uma tendência crescente entre os pais mais jovens, criados como a maioria de nós, comendo muitos doces, sorvetes, bolos e tomando muito refrigerante ao longo da vida.
Eles tentam criar seus filhos sem o consumo de açucares e refrigerantes, sorvetes e frituras. Produtos processados não são consumidos em casa.
Todos com quem conversei são bem conscientes de que isso pode não durar para sempre, já que os filhos crescem e passam a fazer suas próprias escolhas.
Mas dizem que enquanto puderem evitar, desembalarão menos e descascarão mais, como sugerem todos os especialistas em vida saudável. O sal, inclusive, não faz parte da rotina. Usam temperos, como o tomilho, por exemplo, para acrescentar sabor aos alimentos.
Alguns desses pais têm alcançado sucesso em seus propósitos. As crianças comem, com boca boa, qualquer fruta ou verdura como se estivessem comendo o manjar dos deuses.
Do brócolis ao abacate, da couve ao jiló, do mamão à laranja, do quiabo à abóbora, tudo vira iguaria na boca de uma criança que ainda não estragou o paladar com porcarias.
Mas existe uma pedra no meio do caminho. No meio do caminho existe uma pedra. E essa pedra se chama família.
Sejam avós ou tios, eles se sentem no direito de dar à criança, escondido, claro, aquilo que os pais decidiram que não faria parte da alimentação da criança.
Então, a cada oportunidade de receber as crianças em casa, já oferecem a elas o que os pais tão cuidadosa e conscientemente evitaram.
Algumas crianças cospem os bombons e biscoitos recheados. O sabor desconhecido causa repugnância ao ponto de elas fazerem vômito.
Outras, ao contrário, cospem, mas nas tentativas seguintes já vão degustando o “fruto proibido” e gostando.
Sabe o que eu acho disso? Um desrespeito. Os pais podem, e devem, escolher o que consideram o melhor para os filhos, desde que isso os mantenha em segurança afetiva e nutricional.
Ninguém tem o direito de interferir na criação das crianças da família. Cada um já teve a oportunidade de criar seus filhos.
Eu fui criada na roça, comendo do que era plantado pelos meus pais. Tive uma alimentação saudável. Os processados não fizeram parte da minha primeira infância.
Mas imagine hoje, onde a indústria alimentícia investe pesado para enfrentar a concorrência e conquistar o paladar do consumidor. As guloseimas são inúmeras. E o perigo também.
Um estudo publicado em 2017, feito com animais, mostrou que o açúcar é responsável por sintomas mais do que necessários para ser considerado viciante.
Se não oferecemos cocaína, altamente viciante, aos nossos filhos, porque vamos contrariar os pais que decidiram tirar o açúcar da rotina das crianças?
Respeito é bom e todo mundo gosta né?