Uma das maiores preocupações dos educadores que trabalham com crianças pequenas é como avaliar a Educação Infantil? A maneira de definir quais dinâmicas estão dando certo e qual a qualidade do trabalho pedagógico, são dúvidas recorrentes. O fator mais inquietante é que não existe um instrumento nacional de avaliação instituído pelo MEC (Ministério da Educação). O que estava em curso – a Avaliação Nacional de Educação Infantil (ANEI) – foi revogado. E, segundo fonte do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), não há movimento para retomada esse ano ou no próximo. Assim se descumpre mais uma parte do Plano Nacional de Educação (PNE), que determinou que a avaliação fosse criada até 2016.
Além desse ponto de estagnação, existem divergências entre especialistas da área: um grupo é favorável a avaliar o desempenho dos pequenos, o outro o desenvolvimento deles e um terceiro as condições de realização de trabalho nas escolas. “Não faz sentido avaliar desempenho nessa fase com um teste marcado para determinado dia. As crianças se desenvolvem em tempos e maneiras distintas”, defende Rita Coelho, socióloga e membro do Movimento Interfóruns de Educação Infantil do Brasil (MIEIB) e da Rede Nacional Primeira Infância (RNPI). “Qualquer prova na Educação Infantil é um verdadeiro teatro”, afirma Zilma de Oliveira, coordenadora do curso de especialização em gestão pedagógica e formação em Educação Infantil do Instituto Vera Cruz (ISE Vera Cruz), em São Paulo. A falta de equidade na oferta e os contextos locais em um país diverso como o Brasil também tornariam perversa uma avaliação externa, de acordo com Maria Thereza Marcílio, pedagoga, mestre em Educação e fundadora da Avante Educação e Mobilização Social. “Os resultados penalizariam os que mais precisam de ajuda para avançar”, diz.
Mesmo com todos esses impasses, as escolas não podem ficar paradas. Somente avaliando o dia a dia dá para trazer à tona aspectos da realidade, qualificar o trabalho, administrar bem os recursos e cobrar da gestão pública melhorias com base em dados reais.
A prática da avaliação processual na Educação Infantil, por meio do olhar atento e bem formado do professor, documentado em relatórios e portfólios com trabalhos dos pequenos, é difundida faz tempo como a melhor forma de analisar o desenvolvimento da turma e o que cada um está aprendendo.
Por enquanto, o instrumento mais indicado para fazer a avaliação da creche e da pré-escola consta em um documento do MEC com quase dez anos de vida: os Indicadores de Qualidade na Educação Infantil. É uma proposta de autoavaliação. A participação do professor nesse processo reflexivo é essencial. Até pelo contato estreito com a turma e por ser a pessoa que pode sanar as dúvidas dos pais. Cabe a escola descobrir novas ferramentas para evoluir o processo.