A importância do trabalho com gêneros textuais na sala de aula

“Não se formam bons leitores oferecendo materiais de leitura empobrecidos, justamente no momento em que as crianças são iniciadas no mundo da escrita (…)” (PCN’s – op. cit., p.36).

A frase acima, inserida nos Parâmetros Curriculares Nacionais (hoje Base Nacional Comum Curricular), traz uma reflexão sobre a qualidade que queremos oferecer às crianças que iniciam o processo de letramento. Esse processo será muito mais interessante para o aluno se forem usados textos que ele encontra em seu dia a dia, como os do personagem favorito da sua revistinha em quadrinhos, do cartão postal da última viagem de férias ou de uma receita de bolo que ele tem curiosidade em aprender.

No Brasil, por volta dos anos 80, surgem estudos e pesquisas sobre a psicogênese da lecto-escrita, de Emília Ferreiro (importante psicolinguista argentina), tornando o ensino da Língua Portuguesa mais específico porém amplo, criando a necessidade de o professor trabalhar com uma diversidade de gêneros textuais, com temáticas e contextos históricos vinculados à vida cultural e social dos indivíduos, considerando a realidade, respeitando a faixa etária e o grau de aprendizagem de cada indivíduo.

Até então, os alunos brasileiros eram alfabetizados por meio do uso de cartilhas, compostas com textos que eram criados especificamente para a alfabetização, tendo como enfoque principal a alfabetização através dos códigos, não levando em consideração os contextos sociais. Com a mudança de paradigma no processo de alfabetização, temos o surgimento do processo de letramento, que torna imprescindível desenvolver momentos significativos e prazerosos com a leitura e a escrita, na sala de aula.

Já em meados da década de 90, quando foram abordados como eixo central do ensino de língua pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN, 1998), aparecem no contexto estudos sobre Bakhtin (1989), pensador russo que, no início do século XX, se dedicou aos estudos de linguagem e da literatura, sendo um dos primeiros estudiosos a empregar a palavra “gêneros” com um sentido mais amplo, referindo-se, também, aos textos que empregamos nas situações cotidianas de comunicação. De acordo com o autor, os textos que produzimos, sejam eles orais ou escritos, apresentam um conjunto de características relativamente estáveis. Estas características configuram o que ele denomina como diferentes gêneros discursivos. Para Bakhtin (1989), (inserir vírgula) as atividades humanas são realizadas através dos gêneros que são materializados por meio dos textos.

Os gêneros textuais atendem às necessidades para a comunicação entre os indivíduos de forma variável, apresentando diversos estilos e conteúdos temáticos.

Temos como exemplos de gêneros textuais: artigos, poemas, cardápios, cartas de leitor, artigos de opinião, notícias, reportagens, charges, tirinhas, histórias em quadrinhos, ensaios, resenhas, internet, blogs, e-mails, em textos que atendem às necessidades de quem os escreve, apresentando finalidades distintas e definidas. Os gêneros textuais são infindáveis pois as práticas sociocomunicativas são dinâmicas e variáveis.

Ao utilizar o trabalho com os diversos gêneros textuais, a escola contribuirá para uma nova perspectiva no processo de leitura, de escrita e de produção textual, tornando o aluno um leitor e escritor competente e crítico.

 

Fontes:

http://novaescola.org.br/conteudo/338/emilia-ferreiro-estudiosa-que-revolucionou-alfabetizacao

FERREIRO, Emilia; TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da Língua Escrita. Porto Alegre: Artes Médicas, 1985.

PEREZ, Luana Castro Alves. \”Gêneros textuais\”; Brasil Escola. Disponível em <http://brasilescola.uol.com.br/redacao/conceito-generos-textuais.htm>. Acesso em 14 de dezembro de 2016.

ECS, Sinop/MT/Brasil, v. 5, n. 1, p. 107-122, jan./jun. 2015 http://portal.mec.gov.br/ Parâmetros Curriculares Nacionais.

 

\”Ler não é decifrar, escrever não é copiar.\”

A escrita da criança não resulta de simples cópia de um modelo externo, mas é um processo de construção pessoal. Emília Ferreiro

 

\”A língua materna, seu vocabulário e sua estrutura gramatical, não conhecemos por meio de dicionários ou manuais de gramática, mas graças aos enunciados concretos que ouvimos e reproduzimos na comunicação efetiva com as pessoas que nos rodeiam\”. Mikhail Bakthtin

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